A DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO REGULAR
Fernando Marques Pereira *
A convivência do aluno deficiente visual e do professor na sala de aula está longe de ser algo naturalmente aceite, algo comparável à convivência entre um aluno normovisual e o professor. E nem sequer se trata, na maior parte dos casos, de má-vontade por parte do professor ou indisponibilidade do aluno portador de deficiência. Trata-se, tão-somente, da dificuldade de efetivar, na prática, a "Escola Inclusiva", tão sabiamente arquitetada de formas teóricas, à luz da nossa bem intencionada legislação.
Não basta decretar a integração do aluno deficiente visual, misturá-lo com outros alunos e um professor para que a sua integração escolar se consiga, nem tão pouco se garanta o desenvolvimento das suas capacidades/aprendizagens; não nos parece sensato olhar para o professor e ver na sua licenciatura uma formação do tipo "pau para toda a colher" nem esperar que cada professor, por motivação intrínseca, busque entre os paus da sua formação, a "colher" que há em si! ! ... Mas também não queiramos que, por cada aluno portador de deficiência que chega à escola, seja admitido um rol de professores "bem preparados" para as diferentes disciplinas - como se tratassem de "lidadores" para enfrentar a "fera"..
Uma boa parte do problema parece-nos residir essencialmente no "interface conceptual", ou seja, o modo como o professor, na grande maioria dos casos, encara este aluno e que afeta a "compatibilidade" entre eles. O professor insiste em olhar para o aluno portador de deficiência e, em vez de ver o aluno, vê apenas a sua deficiência.
Se é verdade que há cuidados/conhecimentos específicos que devem preocupar o professor, pois são requeridos pelas características específicas daquela deficiência, não nos podemos esquecer que aquele aluno, antes de ser deficiente é uma criança/jovem de características/necessidades semelhantes às das crianças/jovens normovisuais da sua idade. E tomado assim o aluno portador de deficiência, por parte do professor, a compatibilidade entre ambos está, naturalmente, em boa parte assegurada graças à competência pedagógica que o professor tem que possuir. Chegado aqui, já apenas subsiste uma somenos dificuldade: o modo como tem que efetivar o processo ensino-aprendizagem entre ambos. E para ajudar na superação desta dificuldade, o professor deve saber que pode dispor da ajuda do professor do apoio a alunos com necessidades educativas especiais, vulgo professor do "Ensino Especial".
Todos nós conhecemos estudos que demonstram a dificuldade que os professores têm em trabalhar em grupo e todos nós também sentimos diariamente o quanto de verdadeiro têm esses estudos. No entanto, parece-nos de elevada importância e de toda a conveniência que o professor, confrontado com uma turma/classe que contém um aluno portador de deficiência, assuma uma atitude diferente, isto é, tome consciência da importância de pensar/organizar/planificar as aulas daquela turma em grupo de, pelo menos, três pessoas: ele próprio, o professor da equipa do Ensino Especial e o psicólogo escolar. Desta forma, o professor regular consegue juntar às estratégias que delineou para abordar determinado conteúdo, os aspectos e requisitos a ter em conta no caso do aluno portador de deficiência visual (tipo de material a utilizar, a luminosidade requerida se tratar de um amblíope...) e a análise da reação do aluno.
Em relação a este último aspecto, importa compreender que o aluno portador de deficiência visual se vê confrontado com dificuldades de toda a ordem e que nem todo o indivíduo consegue enfrentar a adversidade com "um sorriso nos lábios", com uma indispensável motivação e uma aceitação da deficiência com a resignação/moderação comportamental requeridas pela sociedade. Além disso, não nos podemos esquecer que o comportamento social é algo que é apreendido por imitação - possibilidade que está completamente vedada aos indivíduos portadores de cegueira congénita. A análise, compreensão e apoio/correção das atitudes deste aluno é um trabalho árduo que precisa do envolvimento do professor regular (porque a situação-alvo de correção ocorre na sala de aula), do professor do Apoio Especial (porque é ele que vai assegurar o lado "especial" da intervenção) e do psicólogo (porque a delicadeza da intervenção recomenda conhecimentos comportamentais humanos devidamente estudados).
Conscientes de que ainda falta desenvolver bastantes "démarches", nos mais variados níveis de formação, até conseguirmos encontrar a articulação perfeita entre os vários recursos da escola inclusiva, conforta-nos a convicção de que já arredada anda destes meandros a idéia de que o professor do Ensino Especial devia funcionar como fiscal do modo como o professor regular tinha ou não sensibilidade suficiente para ensinar o aluno portador de deficiência; tal como pensamos, já não fazer sentido aquela idéia de que o Ensino Especial funcionava como refúgio dos "professores cansados", ou com "mais coisas para fazer" do que ensinar.
COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR REGULAR E DO PROFESSOR DE APOIO
Um outro aspecto que nos parece por vezes perturbar a normal aprendizagem do aluno com deficiência visual é a confusão de competências: porque se desconhece a quem compete resolver as carências de material ou limitações frequentes na aprendizagem daquele aluno, assiste-se por vezes a um triste "jogo de empurra" de culpas, sem lucidez para se compreender o essencial: aquele aluno precisa de desenvolver, adequadamente, as mesmas competências e capacidades dos seus colegas, potencialmente projetadas para aquele momento.
Pretendendo tão somente contribuir, de alguma forma, para que tais situações não voltem a acontecer, chamamos a atenção para alguns aspectos que julgamos fundamentais:
O professor do Ensino Especial é apenas um professor de apoio e que, por isso, apenas lhe compete dar apoio ao professor regular na especificidade daquela deficiência; convém nunca perder de vista que o responsável pela aprendizagem do aluno portador de deficiência é o professor da disciplina/classe, responsabilidade essa que, em momento algum pode ser delegada no professor de apoio.
O professor regular deve dispensar ao aluno com deficiência visual a mesma atenção que aos demais alunos da turma e dar-lhe o mesmo apoio. Não é necessário que defina regras particulares ou que lhes exija menos trabalho.
Deve comunicar frequentemente com o professor do ensino especial, informando-o dos progressos do aluno, bem como dos problemas que o mesmo possa ter.
Deve fornecer, ao professor do Ensino Especial, os textos dos trabalhos de casa, dos exames e de outros documentos que seja necessário transcrever para Braille, para caracteres ampliados ou modificar de modo a que os alunos cegos possam compreendê-los.
Quanto ao professor do ensino especial, no seguimento das responsabilidades que se encontram ligadas ao apoio direto que ele deverá dispensar à criança e à família, bem como ao respectivo professor regular, compete-lhe:
proporcionar os apoios necessários para que a criança cega possa ter sucesso escolar numa classe/turma regular;
Dar apoio ao professor do ensino regular, respondendo às suas dúvidas sobre a cegueira, bem como contribuir para que os outros alunos se sintam à vontade com a criança cega;
Fazer eventuais sugestões ou demonstrar modos de procedimento que possam conduzir a melhores resultados no ensino da criança;
Inculcar nas crianças as aptidões suplementares de que possam necessitar. Aptidões e conhecimentos esses que são os que a criança cega ou com visão reduzida necessita para se adaptar às exigências da vida, em integração social, atividades da vida diária, educação sensorial, utilização do tabaco, digitação de um texto, etc. Essas são aptidões que o professor de ensino regular não está capacitado a desenvolver.
Sendo elas indispensáveis à criança, dever-lhe-ão ser transmitidas pelo professor do ensino especial;
Adaptar os materiais didáticos, tais como questionários, folhas de exercícios, mapas e gráficos, por forma a que a criança cega ou com visão reduzida os possa compreender;
Pôr à disposição da criança todos os utensílios e equipamentos específicos de que ela necessite: máquina Braille, livros em Braille, papel especial, meios informáticos, livros com caracteres ampliados, canetas de feltro, papel pautado próprio para visão reduzida, lupas, etc;
Assegurar ele próprio, ou fazer com que seja assegurada, a possibilidade de recuperação ou apoio complementar nas matérias que o aluno tenha mais dificuldade em assimilar na classe/turma regular. Esse apoio pedagógico virá juntar-se ao ensino dispensado na turma e só será necessário quando o aluno revelar dificuldade em compreender certas partes de conteúdos ou aulas;
Servir de elo de ligação entre a casa e a escola, nomeadamente informando os pais acerca dos progressos da criança e indicando-lhes os exercícios que ela deverá fazer em casa sob a sua orientação.
As exigências da escola inclusiva, manifestadas junto do professor regular e do professor do ensino especial não são nem simples nem fáceis. Para levá-las a bom termo, são necessários empenhamento e trabalho assíduo. Em mútua colaboração e entendimento, o professor do ensino regular e o professor do ensino especial podem assegurar uma escolaridade estimulante, não apenas às crianças portadoras de deficiência visual, mas a toda a classe/turma no seu conjunto. A presença do aluno portador de deficiência na classe/turma pode e deve ser um bom pretexto para incrementar o desenvolvimento de um grande leque de valores ligados à cidadania, nos colegas da turma e da própria escola.
Requisitos básicos para o atendimento ao aluno portador de deficiência visual no ensino regular:
Modalidades de Atendimento:
Vigotsky defende a idéia de que a educação dos alunos cegos, não deve acontecer de forma isolada e que ela deve ser organizada como a educação da criança para o desenvolvimento normal, para formar a pessoa cega, como uma pessoa normal, de pleno valor no aspecto social.
Para tornar possível a permanência dos alunos deficientes visuais no ensino regular, tanto estes, quanto os professores ainda não qualificados, precisam contar com o acompanhamento e a orientação do professor especializado, através das seguintes formas de atendimento:
Sala de Recursos: espaço que, na escola de ensino regular, dispõe de equipamentos, recursos didáticos e professor especializado para o atendimento específico de alunos com necessidades educativas especiais, em trabalho comum com o professor da turma que o aluno freqüenta, que deve ter uma Programação Pedagógica Complementar, segundo Bruno (1997, p.12), para oferecer apoio suplementar para superação das dificuldades geradas pela deficiência visual, proporcionando:
Acesso e domínio do Sistema Braille para o processo de alfabetização (reglete, máquina de datilografia braile e informática)
Suplementação pedagógica do conteúdo curricular desenvolvido na classe comum
Domínio do sorobã
Datilografia comum ou computador para alfabetização (utilizando sintetizador de voz e impressora braile)
Programa de A.V.D. – Atividades da Vida Diária e O&M – Orientação e Mobilidade
Elaboração conjunta (professor especializado, professor do ensino regular e alunos) de material didático-pedagógico adaptado às necessidades individuais e do grupo
De acordo com Bruno (1997, p.18), o professor da sala de recursos, por não ser regente, terá uma horário flexível, organizado em função do aluno.
O aluno matriculado na classe comum e inscrito na Sala de Recursos, deve participar de todas as atividades gerais da escola que favoreçam seu desenvolvimento e proporcionem a efetiva inclusão educacional, podendo freqüentar a classe comum num período e, no outro, a Sala de Recursos.
São atribuições do professor da Sala de Recursos:
Participar do planejamento geral do processo ensino-aprendizagem;
Solicitar, junto à direção da escola, que fará o devido encaminhamento, recursos e materiais específicos, necessários para o bom funcionamento da Sala de Recursos;
Assessorar e orientar os professores da classe comum, proporcionando apoio e suplementação pedagógica ao educando;
Introduzir os recursos específicos necessários à aprendizagem do processo de leitura e escrita pelo Sistema Braille (reglete, máquina Braile)
Proporcionar ao aluno de visão subnormal programa para o desenvolvimento da eficiência visual, adaptando o material de leitura e escrita, compatível ao nível de capacidade visual;
Adotar a proposta curricular utilizada na classe comum, adaptando-a ao nível de desenvolvimento global e o acesso ao conteúdo curricular, favorecendo a inclusão social;
Ensinar o código Braille ao aluno, aos familiares e professores da classe regular;
Adaptar ou enriquecer os conteúdos curriculares tendo em vista: o desenvolvimento dos processos conceituais, favorecendo a integração das funções tátil-cinestésica-auditiva-olfativa e visoperceptiva no caso da visão subnormal;
Adaptar os materiais pedagógicos, incluindo jogos lúdicos, para o processo de leitura e escrita das séries iniciais dos alunos portadores de cegueira e visão subnormal;
Introduzir o uso do sorobã, como auxiliar da matemática;
Assessorar e orientar o professor de educação física quanto à adaptação de técnicas e atividades que favoreçam o desenvolvimento motor global, a resistência física, a força muscular, a coordenação geral dos movimentos e a participação do aluno em práticas esportivas;
Elaborar, em conjunto com o aluno e família, um programa de atividades básicas de vida diária (AVD) e Orientação e Mobilidade (OM);
Introduzir o estudo da informática para os alunos com cegueira e visão subnormal a partir da 3a. ou 4a. série, como processo facilitador da comunicação e integração do aluno no ensino comum.
Transcrição para o Braille de textos, provas, apostilas, etc;
Transcrição para tinta de trabalhos em Braille;
Ampliação de textos e provas
Ensino com Professor Itinerante – Segundo o Ministério da Educação – MEC e a Secretaria de Educação Especial, (BRASIL, l995, p.31) o atendimento educacional itinerante, constitui-se em uma modalidade especializada de apoio pedagógico, desenvolvido por profissional devidamente capacitado. Esse atendimento se caracteriza pela movimentação do professor, que se deslocará para as escolas do ensino regular onde existirem, matriculados, alunos portadores de deficiência visual e, que não exista sala de recursos, e onde haja carência de professores especializados. Em geral, é utilizado esse atendimento, quando o número de alunos a ser atendido em qualquer das escolas é insuficiente para justificar o emprego permanente de um professor especializado ou de uma sala de recursos para cada escola.
O ensino Itinerante tem o objetivo de proporcionar os benefícios do programa educacional recebido por todas as crianças e, o professor especializado, poderá desenvolver quase todas as atribuições da Sala de Recursos que não dependam de equipamentos específicos não existentes na Unidade Escolar.
Segundo Rocha (1987, p.247), a importância da manutenção deste programa, junto à rede de escolas públicas, pode ser facilmente reconhecida, haja vista a possibilidade da criança de freqüentar a escola de seu bairro, muitas vezes como único deficiente visual matriculado. Ele terá suas necessidades atendidas pela união de esforços do professor itinerante, da classe comum e pessoal (técnico- administrativo, docente e discente), pais do aluno, capacitando-a a participar das atividades escolares e a se manter no mesmo nível dos seus colegas de classe.
Fernando Marques Pereira *
A convivência do aluno deficiente visual e do professor na sala de aula está longe de ser algo naturalmente aceite, algo comparável à convivência entre um aluno normovisual e o professor. E nem sequer se trata, na maior parte dos casos, de má-vontade por parte do professor ou indisponibilidade do aluno portador de deficiência. Trata-se, tão-somente, da dificuldade de efetivar, na prática, a "Escola Inclusiva", tão sabiamente arquitetada de formas teóricas, à luz da nossa bem intencionada legislação.
Não basta decretar a integração do aluno deficiente visual, misturá-lo com outros alunos e um professor para que a sua integração escolar se consiga, nem tão pouco se garanta o desenvolvimento das suas capacidades/aprendizagens; não nos parece sensato olhar para o professor e ver na sua licenciatura uma formação do tipo "pau para toda a colher" nem esperar que cada professor, por motivação intrínseca, busque entre os paus da sua formação, a "colher" que há em si! ! ... Mas também não queiramos que, por cada aluno portador de deficiência que chega à escola, seja admitido um rol de professores "bem preparados" para as diferentes disciplinas - como se tratassem de "lidadores" para enfrentar a "fera"..
Uma boa parte do problema parece-nos residir essencialmente no "interface conceptual", ou seja, o modo como o professor, na grande maioria dos casos, encara este aluno e que afeta a "compatibilidade" entre eles. O professor insiste em olhar para o aluno portador de deficiência e, em vez de ver o aluno, vê apenas a sua deficiência.
Se é verdade que há cuidados/conhecimentos específicos que devem preocupar o professor, pois são requeridos pelas características específicas daquela deficiência, não nos podemos esquecer que aquele aluno, antes de ser deficiente é uma criança/jovem de características/necessidades semelhantes às das crianças/jovens normovisuais da sua idade. E tomado assim o aluno portador de deficiência, por parte do professor, a compatibilidade entre ambos está, naturalmente, em boa parte assegurada graças à competência pedagógica que o professor tem que possuir. Chegado aqui, já apenas subsiste uma somenos dificuldade: o modo como tem que efetivar o processo ensino-aprendizagem entre ambos. E para ajudar na superação desta dificuldade, o professor deve saber que pode dispor da ajuda do professor do apoio a alunos com necessidades educativas especiais, vulgo professor do "Ensino Especial".
Todos nós conhecemos estudos que demonstram a dificuldade que os professores têm em trabalhar em grupo e todos nós também sentimos diariamente o quanto de verdadeiro têm esses estudos. No entanto, parece-nos de elevada importância e de toda a conveniência que o professor, confrontado com uma turma/classe que contém um aluno portador de deficiência, assuma uma atitude diferente, isto é, tome consciência da importância de pensar/organizar/planificar as aulas daquela turma em grupo de, pelo menos, três pessoas: ele próprio, o professor da equipa do Ensino Especial e o psicólogo escolar. Desta forma, o professor regular consegue juntar às estratégias que delineou para abordar determinado conteúdo, os aspectos e requisitos a ter em conta no caso do aluno portador de deficiência visual (tipo de material a utilizar, a luminosidade requerida se tratar de um amblíope...) e a análise da reação do aluno.
Em relação a este último aspecto, importa compreender que o aluno portador de deficiência visual se vê confrontado com dificuldades de toda a ordem e que nem todo o indivíduo consegue enfrentar a adversidade com "um sorriso nos lábios", com uma indispensável motivação e uma aceitação da deficiência com a resignação/moderação comportamental requeridas pela sociedade. Além disso, não nos podemos esquecer que o comportamento social é algo que é apreendido por imitação - possibilidade que está completamente vedada aos indivíduos portadores de cegueira congénita. A análise, compreensão e apoio/correção das atitudes deste aluno é um trabalho árduo que precisa do envolvimento do professor regular (porque a situação-alvo de correção ocorre na sala de aula), do professor do Apoio Especial (porque é ele que vai assegurar o lado "especial" da intervenção) e do psicólogo (porque a delicadeza da intervenção recomenda conhecimentos comportamentais humanos devidamente estudados).
Conscientes de que ainda falta desenvolver bastantes "démarches", nos mais variados níveis de formação, até conseguirmos encontrar a articulação perfeita entre os vários recursos da escola inclusiva, conforta-nos a convicção de que já arredada anda destes meandros a idéia de que o professor do Ensino Especial devia funcionar como fiscal do modo como o professor regular tinha ou não sensibilidade suficiente para ensinar o aluno portador de deficiência; tal como pensamos, já não fazer sentido aquela idéia de que o Ensino Especial funcionava como refúgio dos "professores cansados", ou com "mais coisas para fazer" do que ensinar.
COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR REGULAR E DO PROFESSOR DE APOIO
Um outro aspecto que nos parece por vezes perturbar a normal aprendizagem do aluno com deficiência visual é a confusão de competências: porque se desconhece a quem compete resolver as carências de material ou limitações frequentes na aprendizagem daquele aluno, assiste-se por vezes a um triste "jogo de empurra" de culpas, sem lucidez para se compreender o essencial: aquele aluno precisa de desenvolver, adequadamente, as mesmas competências e capacidades dos seus colegas, potencialmente projetadas para aquele momento.
Pretendendo tão somente contribuir, de alguma forma, para que tais situações não voltem a acontecer, chamamos a atenção para alguns aspectos que julgamos fundamentais:
O professor do Ensino Especial é apenas um professor de apoio e que, por isso, apenas lhe compete dar apoio ao professor regular na especificidade daquela deficiência; convém nunca perder de vista que o responsável pela aprendizagem do aluno portador de deficiência é o professor da disciplina/classe, responsabilidade essa que, em momento algum pode ser delegada no professor de apoio.
O professor regular deve dispensar ao aluno com deficiência visual a mesma atenção que aos demais alunos da turma e dar-lhe o mesmo apoio. Não é necessário que defina regras particulares ou que lhes exija menos trabalho.
Deve comunicar frequentemente com o professor do ensino especial, informando-o dos progressos do aluno, bem como dos problemas que o mesmo possa ter.
Deve fornecer, ao professor do Ensino Especial, os textos dos trabalhos de casa, dos exames e de outros documentos que seja necessário transcrever para Braille, para caracteres ampliados ou modificar de modo a que os alunos cegos possam compreendê-los.
Quanto ao professor do ensino especial, no seguimento das responsabilidades que se encontram ligadas ao apoio direto que ele deverá dispensar à criança e à família, bem como ao respectivo professor regular, compete-lhe:
proporcionar os apoios necessários para que a criança cega possa ter sucesso escolar numa classe/turma regular;
Dar apoio ao professor do ensino regular, respondendo às suas dúvidas sobre a cegueira, bem como contribuir para que os outros alunos se sintam à vontade com a criança cega;
Fazer eventuais sugestões ou demonstrar modos de procedimento que possam conduzir a melhores resultados no ensino da criança;
Inculcar nas crianças as aptidões suplementares de que possam necessitar. Aptidões e conhecimentos esses que são os que a criança cega ou com visão reduzida necessita para se adaptar às exigências da vida, em integração social, atividades da vida diária, educação sensorial, utilização do tabaco, digitação de um texto, etc. Essas são aptidões que o professor de ensino regular não está capacitado a desenvolver.
Sendo elas indispensáveis à criança, dever-lhe-ão ser transmitidas pelo professor do ensino especial;
Adaptar os materiais didáticos, tais como questionários, folhas de exercícios, mapas e gráficos, por forma a que a criança cega ou com visão reduzida os possa compreender;
Pôr à disposição da criança todos os utensílios e equipamentos específicos de que ela necessite: máquina Braille, livros em Braille, papel especial, meios informáticos, livros com caracteres ampliados, canetas de feltro, papel pautado próprio para visão reduzida, lupas, etc;
Assegurar ele próprio, ou fazer com que seja assegurada, a possibilidade de recuperação ou apoio complementar nas matérias que o aluno tenha mais dificuldade em assimilar na classe/turma regular. Esse apoio pedagógico virá juntar-se ao ensino dispensado na turma e só será necessário quando o aluno revelar dificuldade em compreender certas partes de conteúdos ou aulas;
Servir de elo de ligação entre a casa e a escola, nomeadamente informando os pais acerca dos progressos da criança e indicando-lhes os exercícios que ela deverá fazer em casa sob a sua orientação.
As exigências da escola inclusiva, manifestadas junto do professor regular e do professor do ensino especial não são nem simples nem fáceis. Para levá-las a bom termo, são necessários empenhamento e trabalho assíduo. Em mútua colaboração e entendimento, o professor do ensino regular e o professor do ensino especial podem assegurar uma escolaridade estimulante, não apenas às crianças portadoras de deficiência visual, mas a toda a classe/turma no seu conjunto. A presença do aluno portador de deficiência na classe/turma pode e deve ser um bom pretexto para incrementar o desenvolvimento de um grande leque de valores ligados à cidadania, nos colegas da turma e da própria escola.
Requisitos básicos para o atendimento ao aluno portador de deficiência visual no ensino regular:
Modalidades de Atendimento:
Vigotsky defende a idéia de que a educação dos alunos cegos, não deve acontecer de forma isolada e que ela deve ser organizada como a educação da criança para o desenvolvimento normal, para formar a pessoa cega, como uma pessoa normal, de pleno valor no aspecto social.
Para tornar possível a permanência dos alunos deficientes visuais no ensino regular, tanto estes, quanto os professores ainda não qualificados, precisam contar com o acompanhamento e a orientação do professor especializado, através das seguintes formas de atendimento:
Sala de Recursos: espaço que, na escola de ensino regular, dispõe de equipamentos, recursos didáticos e professor especializado para o atendimento específico de alunos com necessidades educativas especiais, em trabalho comum com o professor da turma que o aluno freqüenta, que deve ter uma Programação Pedagógica Complementar, segundo Bruno (1997, p.12), para oferecer apoio suplementar para superação das dificuldades geradas pela deficiência visual, proporcionando:
Acesso e domínio do Sistema Braille para o processo de alfabetização (reglete, máquina de datilografia braile e informática)
Suplementação pedagógica do conteúdo curricular desenvolvido na classe comum
Domínio do sorobã
Datilografia comum ou computador para alfabetização (utilizando sintetizador de voz e impressora braile)
Programa de A.V.D. – Atividades da Vida Diária e O&M – Orientação e Mobilidade
Elaboração conjunta (professor especializado, professor do ensino regular e alunos) de material didático-pedagógico adaptado às necessidades individuais e do grupo
De acordo com Bruno (1997, p.18), o professor da sala de recursos, por não ser regente, terá uma horário flexível, organizado em função do aluno.
O aluno matriculado na classe comum e inscrito na Sala de Recursos, deve participar de todas as atividades gerais da escola que favoreçam seu desenvolvimento e proporcionem a efetiva inclusão educacional, podendo freqüentar a classe comum num período e, no outro, a Sala de Recursos.
São atribuições do professor da Sala de Recursos:
Participar do planejamento geral do processo ensino-aprendizagem;
Solicitar, junto à direção da escola, que fará o devido encaminhamento, recursos e materiais específicos, necessários para o bom funcionamento da Sala de Recursos;
Assessorar e orientar os professores da classe comum, proporcionando apoio e suplementação pedagógica ao educando;
Introduzir os recursos específicos necessários à aprendizagem do processo de leitura e escrita pelo Sistema Braille (reglete, máquina Braile)
Proporcionar ao aluno de visão subnormal programa para o desenvolvimento da eficiência visual, adaptando o material de leitura e escrita, compatível ao nível de capacidade visual;
Adotar a proposta curricular utilizada na classe comum, adaptando-a ao nível de desenvolvimento global e o acesso ao conteúdo curricular, favorecendo a inclusão social;
Ensinar o código Braille ao aluno, aos familiares e professores da classe regular;
Adaptar ou enriquecer os conteúdos curriculares tendo em vista: o desenvolvimento dos processos conceituais, favorecendo a integração das funções tátil-cinestésica-auditiva-olfativa e visoperceptiva no caso da visão subnormal;
Adaptar os materiais pedagógicos, incluindo jogos lúdicos, para o processo de leitura e escrita das séries iniciais dos alunos portadores de cegueira e visão subnormal;
Introduzir o uso do sorobã, como auxiliar da matemática;
Assessorar e orientar o professor de educação física quanto à adaptação de técnicas e atividades que favoreçam o desenvolvimento motor global, a resistência física, a força muscular, a coordenação geral dos movimentos e a participação do aluno em práticas esportivas;
Elaborar, em conjunto com o aluno e família, um programa de atividades básicas de vida diária (AVD) e Orientação e Mobilidade (OM);
Introduzir o estudo da informática para os alunos com cegueira e visão subnormal a partir da 3a. ou 4a. série, como processo facilitador da comunicação e integração do aluno no ensino comum.
Transcrição para o Braille de textos, provas, apostilas, etc;
Transcrição para tinta de trabalhos em Braille;
Ampliação de textos e provas
Ensino com Professor Itinerante – Segundo o Ministério da Educação – MEC e a Secretaria de Educação Especial, (BRASIL, l995, p.31) o atendimento educacional itinerante, constitui-se em uma modalidade especializada de apoio pedagógico, desenvolvido por profissional devidamente capacitado. Esse atendimento se caracteriza pela movimentação do professor, que se deslocará para as escolas do ensino regular onde existirem, matriculados, alunos portadores de deficiência visual e, que não exista sala de recursos, e onde haja carência de professores especializados. Em geral, é utilizado esse atendimento, quando o número de alunos a ser atendido em qualquer das escolas é insuficiente para justificar o emprego permanente de um professor especializado ou de uma sala de recursos para cada escola.
O ensino Itinerante tem o objetivo de proporcionar os benefícios do programa educacional recebido por todas as crianças e, o professor especializado, poderá desenvolver quase todas as atribuições da Sala de Recursos que não dependam de equipamentos específicos não existentes na Unidade Escolar.
Segundo Rocha (1987, p.247), a importância da manutenção deste programa, junto à rede de escolas públicas, pode ser facilmente reconhecida, haja vista a possibilidade da criança de freqüentar a escola de seu bairro, muitas vezes como único deficiente visual matriculado. Ele terá suas necessidades atendidas pela união de esforços do professor itinerante, da classe comum e pessoal (técnico- administrativo, docente e discente), pais do aluno, capacitando-a a participar das atividades escolares e a se manter no mesmo nível dos seus colegas de classe.
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